Se fosse um Estado, Petrobras seria o segundo maior

26 de Dezembro de 2014

Onde se pisa, há Petrobras. Literalmente. Do asfalto feito de petróleo bruto ao gás de cozinha, passando pelo refino de todo o combustível que move a frota nacional. A onipresença da empresa, outrora motivo de orgulho nacional, passa a ser apontada como um empecilho a sua vitalidade.

Impedida pelo governo de elevar preço da gasolina para segurar a inflação, a petroleira viu a divisão de refino e abastecimento ter prejuízo de R$ 17,7 bilhões em 2013. Resultado de uma lógica cruel: a divisão de exploração e produção vende petróleo a preços internacionais ao setor de abastecimento, que precisa repassar aos postos de gasolina a valor mais baixo.

— Não há problema em haver essa verticalização no negócio, isso ocorre na Inglaterra e nos Estados Unidos. O problema é o uso político que se faz disso no Brasil — destaca Valter Bianchi Filho, sócio da Fundamenta Investimentos.

Com negócios em diferentes áreas do setor de energia, a companhia passou a ostentar papel crucial na economia. A participação no Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 3%, em 2000, para 13% neste ano. Se fosse um Estado, a Petrobras seria o segundo mais importante do país, atrás apenas de São Paulo, e com participação duas vezes superior a do Rio Grande do Sul (6,3%).

— Com tantos tentáculos, a empresa perde capacidade de gestão. Há muita politização nas decisões, e muitos investimentos são nocivos a ela própria, para beneficiar meia dúzia de interessados — afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Na China, 4 estatais concorrem entre si

 

Para Haroldo Lima, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), apesar de a Lei do Petróleo de 1997 ter aberto a exploração à iniciativa privada, a Petrobras ainda se comporta como se fosse a única empresa em atuação no país.

— O monopólio foi muito importante para a Petrobras crescer, mas hoje essa mentalidade prejudica a companhia. Há uma tentativa de sufocar as empresas privadas do setor e, quando não há concorrência, a eficiência não é tão necessária — acrescenta.

Lima conta que, quando esteve no comando da ANP, entre 2003 e 2011, enfrentou críticas e resistência de grupos políticos de "visão atrasada" que achavam que "estimular a iniciativa privada era diminuir a Petrobras":

 

— Por que a Petrobras precisa gastar energia em poços não tão produtivos? Deveríamos focar em coisas que geram mais resultado.

No Brasil atuam 47 empresas, enquanto nos EUA há 23 mil petrolíferas privadas. Na China, há quatro estatais que competem entre si — duas estão presentes na exploração do pré-sal, a CNPC e a CNOOC, integrantes do consórcio vencedor do leilão de Libra.

Fonte: Jornal Zero Hora (Cadu Caldas / Erik Farina)